MATERNIDADE ATÍPICA: AUDIÊNCIA PÚBLICA NA ALERJ MOSTRA QUE 10 MILHÕES DE MULHERES VIVEM SÓ PARA CUIDAR DE SEUS FILHOS

Segundo números do IBGE apresentados pela Comissão da Alerj de Defesa dos Direitos da Mulher, no Brasil há 2,4 milhões de mães de pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista.

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, presidida pela deputada Renata Souza (Psol), realizou audiência pública nesta quarta-feira (25/06) para debater os desafios da maternidade atípica. Segundo dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados pelo colegiado durante a reunião, no Brasil há 2,4 milhões de mães de pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista, e aproximadamente 10 milhões de mulheres se dedicam exclusivamente aos cuidados com seus filhos. Diante desse cenário, Renata anunciou que vai enviar ofício às secretarias de estado de Assistência Social e de Saúde para que prestem contas sobre as ações de políticas públicas direcionadas às mães atípicas.

Entre os encaminhamentos deliberados na audiência destacam-se os seguintes: a criação de uma Frente Estadual Parlamentar em Defesa da Política Nacional de Cuidados; oficiar a Secretaria de Educação em relação ao cumprimento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); acionar os Conselhos Regionais de Nutrição e Psicologia para discutir os temas relacionados à alimentação e saúde mental; e elaborar um Programa de Ampliação das Residências Inclusivas.

“No geral, são as mulheres que vivenciam impactos da falta de política pública para atender às demandas e necessidades dos seus filhos. O Estado precisa prever e garantir que essa mãe tenha dignidade no seu trabalho de cuidado”, observou Renata.

Ela também anunciou que protocolou um projeto Indicação Simples em que pede ao Poder Executivo a quantidade de profissionais hoje disponíveis para buscar maior celeridade no diagnóstico precoce, uma das principais dificuldades levantadas pelas mães atípicas. “Pedimos à Secretaria de Saúde para que proceda com a averiguação do número de profissionais da área de neurologia atuando na rede estadual de saúde, bem como a necessidade de laudos médicos para que seus dependentes tenham direito à educação e ao tratamento especializado”, completou.

Desafios relatados

Pedagoga e integrante do Fórum Municipal de Educação de Nilópolis, Vanessa Ferreira reivindicou em sua fala maior apoio psicológico para as mães. “O Instituto Baresi mostra que 78% dos homens abandonam seus filhos antes dos cinco anos de idade, diante de algum diagnóstico de deficiência. Isso traz para a mãe falta de apoio do companheiro e, quando a gente chega nesse ponto, ela vai entrando em vários processos de adoecimento”, relatou.

Já a autista nível 2 de suporte e também mãe solo atípica, Fernanda Fialho, relatou sobre seu diagnóstico tardio e as violências sofridas ao longo do processo: “A minha primeira internação veio aos 14 anos. Também sobrevivi a situações de violência dentro e fora dessas instituições. Boa parte do que aconteceu comigo veio de um lugar de desconhecimento e de ignorância. Além disso, quando descobrem que eu sou mãe autista de autista, não posso acompanhar minha filha em uma consulta ou no hospital, pois não consigo ficar sozinha com ela. E meu pai, que é o nosso único suporte, não pode nos acompanhar, precisa entrar no meu lugar pela regra de apenas um acompanhante”.

Outra mãe atípica, Priscila Melo também deu seu relato durante a audiência. Ela contou sobre a dificuldade de não poder contar com uma boa estrutura escolar. “Meu filho tem seletividade alimentar e se a comida não tiver uma apresentação visual, cheiro ou sabor ele não se alimenta. Se o refeitório tiver com muito barulho e tumultuado, ele também fica com essa dificuldade de comer. Já aconteceu de ele se jogar no chão do refeitório e terem que me ligar para buscá-lo porque ninguém sabia me dizer qual era a gravidade da situação”, contou.

Atendimento biopsicossocial

A superintendente de Políticas para Pessoa com Deficiência da subsecretaria estadual de Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos, Neide Aparecida, destacou o principal objetivo de política pública da pasta. “Nós temos a meta para outubro de um programa de qualificação profissional com atendimento biopsicossocial para todas as mães de pessoas com deficiência”, anunciou.

Já a representante da Secretaria de Saúde e coordenadora das maternidades estaduais, Margareth Portella, disse que o maior desafio é a adequação de recursos humanos especializados. “Às vezes, um neuropediatra precisa passar de município em município em cada dia da semana. É uma especialidade cuja demanda aumentou demais e a oferta é pequena. Uma das metas da secretaria é descentralizar isso”, explicou.

Participaram da audiência a defensora pública do Núcleo Especializado de Defesa da Pessoa com Deficiência (NEDIP), Mabel Neves Arce; a fundadora do Núcleo de Estimulação Estrela de Maria, Rafaela França; a pedagoga e integrante do Fórum Municipal de Educação de Nilópolis, Vanessa Ferreira; a integrante da ONG Providenciando a Favor da Vida, Vanessa Ferreira; a deputada federal Talíria Petrone (PSOL); a vereadora Thaís Ferreira (PSOL); e outras mães solos e atípicas.

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Theo Vieira
Pós graduado em História do Brasil pela Universidade Candido Mendes e Graduado em Comunicação Social, com habilitação para Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida. Atua como jornalista e apresentador dos programas “Super Manhã” de Segunda a Sexta das 5h às 07h e o “Sabadão da Nossa Rádio”, todos os Sábados de 09h ao meio dia, pela Nossa Rádio FM.