Sistema de antisaneamento de Cabo Frio mostra a sua cara

Fenômeno recorrente na Enseada das Palmeiras é instantâneo do verdadeiro sistema de antisaneamento implantado na cidade de Cabo Frio.

Lá se vão 27 anos desde que o Município de Cabo Frio concedeu à iniciativa privada a coleta e tratamento do esgoto da cidade. Desde então, apesar de avanços em algumas áreas, pouca coisa mudou no geral, uma vez que se adotou o confortável arranjo operacional de compartilhamento da rede de drenagem para a coleta do esgoto; poupando recursos à concessionária e penalizando os contribuintes.
O resultado pode ser observado e tem sido registrado ao longo dos anos na Enseada das Palmeiras, um dos bairros mais valorizados da cidade.
De tempos em tempos, a enseada é invadida por algas, que proliferam exponencialmente se alimentando do esgoto despejado na lagoa e cumprem seu ciclo natural morrendo e apodrecendo na orla.
O que seria algo natural e aceitável em condições ambientais normais, se torna o caos ambiental e sanitário pelo excesso de resíduos apodrecendo nas margens da lagoa, impossibilitando o acesso aos barcos, proporcionando mau cheiro e desconforto geral no bairro.
O fenômeno nada mais é do que o resultado prático do sistema de saneamento da cidade, que prometia funcionar bem em “tempo seco”, mas que, na verdade, tornou-se apenas um pretexto para descarregar na lagoa esgoto in natura vindo das mais diferentes fontes, incluindo uma subdimensionada estação de bombeamento de esgoto instalada na orla das Palmeiras, incapaz de cumprir seu objetivo em qualquer situação. Faça sol ou faça chuva.

Bomba sazonal

O secretário de Meio Ambiente e Clima de Cabo Frio, Jailton Dias Nogueira explica que o fenômeno do aparecimento das algas é natural e acontece sazonalmente. “Uma observância clara em relação a esse ponto é, primeiro, a sazonalidade da alga, que acontece naturalmente na Enseada das Palmeiras”.
Ele afirma, no entanto, que a estação de bombeamento de esgoto da concessionária Prolagos existente no local é uma emissora de carga orgânica pontual na lagoa, gerando desequilíbrio no sistema natural.
“Quando Chove, entra nitrogênio e fósforo através do esgoto, e isso vai se acumulando no fundo da lagoa. Então, temos ali um propagador, uma mola propulsora sazonal de poluição. Estamos trabalhando pra melhorar a situação. Nós obrigamos a concessionária a modificar o sistema automático da comporta, obra que está sendo feita. Durante a jornada técnica, realizada recentemente, apontamos que esse local precisa não apenas de uma reforma, mas de uma nova estrutura atualizada para a carga que recebe”, diz Jailton.
Ele explica que no sistema atual de saneamento não é possível abrir mão da comporta. “Pelos estudos realizados, não tem como não ter a comporta, porque senão a cidade inundaria lá atrás em dias de chuva”, explica

Sob judicialização

Muitos procedimentos estão em tramitação no Ministério Público Federal. O Procurador da República, Leandro Mitidieri, já ajuizou diversas ações contra a concessionária Prolagos e participa de todos os encontros relacionados com o tema. “Nunca paramos de agir. Fazemos diversas reuniões. E só não ajuízo uma ação atrás da outra porque isso seria contraproducente. Estou aguardando as decisões das ações já ajuizadas para tomar novas medidas” declarou o procurador.
*Imagem em destaque: Funcionários da Comsercaf tentam retirar as algas acumuladas na orla das Palmeiras no dia 29 de agosto de 2025.
Por Revista da Cidade

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Theo Vieira
Pós graduado em História do Brasil pela Universidade Candido Mendes e Graduado em Comunicação Social, com habilitação para Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida. Atua como jornalista e apresentador dos programas “Super Manhã” de Segunda a Sexta das 5h às 07h e o “Sabadão da Nossa Rádio”, todos os Sábados de 09h ao meio dia, pela Nossa Rádio FM.