O tarifaço americano de 50% sobre produtos brasileiros deve causar um impacto de R$ 123 milhões no Produto Interno Bruto (PIB) fluminense, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A expectativa é que 2% das exportações da região sejam atingidas. Atualmente, o Rio de Janeiro é a segunda unidade federativa brasileira que mais envia produtos para os Estados Unidos.
O petróleo, o ferro e o aço, principais produtos exportados pelo Rio de Janeiro, ficaram de fora do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump na última terça-feira, 6. Os itens siderúrgicos já haviam sido taxados em 50% no dia 4 de junho. De acordo com a Firjan, os setores mais afetados no Estado são os de alimentos e bebidas, borracha, plástico, produtos químicos, têxteis e pescados.
A economista, professora e pesquisadora Cristina Helena de Mello afirma que o impacto da medida sobre os preços dos produtos ainda é incerto.
“O efeito final sobre preços é duvidoso. No curto prazo, em que a produção foi realizada com expectativa maior de vendas, o escoamento da produção pode ocorrer com redução de preços”, explica. “Contudo, precisamos avaliar no médio prazo como vão reagir as diferentes cadeias de produção”, adverte.
Cristina também chama a atenção para o risco de depreciação cambial. “Uma redução do resultado da balança comercial pode significar menor disponibilidade de moeda de reserva e seu encarecimento. Assim, a depreciação cambial pode encarecer importações de insumos e pressionar preços nos setores em que a importação representa custo de produção significativo.”
A coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio, Fernanda Brandão Martins, avalia que é possível mitigar as perdas.
“Os exportadores brasileiros precisam usar este momento para buscar novos parceiros comerciais que os tornem menos dependentes do mercado americano, diante do cenário de incerteza e de protecionismo que predomina na política comercial dos EUA”, explica.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ) avalia que o momento é “estratégico”:
“A Fecomércio RJ defende a prioridade no aproveitamento da maior oferta interna para controlar preços domésticos e expandir mercados, e não adotar medidas paliativas que apenas elevam gastos com pressão inflacionária. O momento é estratégico para promover programas como o Made in Rio e reforçar a agenda exportadora com inteligência comercial, previsibilidade e confiabilidade institucional.”
A Firjan aponta que 48 municípios fluminenses exportaram para o mercado americano em 2024 e podem ser impactados. Hoje, os EUA são o principal investidor externo direto no mercado brasileiro e o segundo maior parceiro comercial do Brasil, registrando superavit de US$ 7 bilhões em 2024.
“A Federação das Indústrias do Estado do Rio reforça a importância da mobilização de entes públicos e privados para a formulação de iniciativas de apoio às empresas afetadas, de forma que seja possível mitigar os impactos em receita e arrecadação, mas, principalmente, proteger postos de trabalho”, declara a entidade em nota.
Impacto no mercado de trabalho fluminense
Uma pesquisa realizada pela Firjan revela que 60% dos empresários fluminenses esperam impactos das medidas em seus negócios no curto prazo, principalmente na queda de receitas, no aumento dos custos operacionais e na redução das exportações. Além disso, 42% dos entrevistados admitem temer a possibilidade de precisar demitir funcionários.
Gustavo Coimbra Costa, diretor de Recruitment Solutions da LHH Brasil, diz que o tarifaço já afeta novas contratações.
“Para os efeitos de demissão, ainda é cedo afirmar, pois os impactos estão sendo avaliados por cada organização dos setores mais afetados. No entanto, já há impacto nas novas contratações, que estão mais restritas e sendo realizadas apenas em casos estratégicos ou para reposições importantes”, diz.
Segundo ele, é possível que, nos próximos meses, os setores afetados passem por mudanças.
“Idealmente, alguns oferecem férias coletivas para terem tempo de avaliar os cenários, ou ainda redefinirem funções, mudanças de escopo e priorização de outras atividades antes de tomarem a decisão por desligamentos”, pontua. “Vale lembrar que muitos desses setores são altamente especializados, portanto, dependentes de conhecimento técnico elevado de seus colaboradores. Por isso, vão fazer esforços para mantê-los.”
Grupo de Trabalho
Procurada sobre o impacto do tarifaço na economia fluminense, a Secretaria de Estado da Casa Civil informa que o “grupo criado pelo governador Cláudio Castro para avaliar os impactos das medidas na economia do Estado continua seu trabalho de realizar o diagnóstico e propor medidas de mitigação, identificando os municípios e os segmentos das cadeias produtivas que serão mais afetados”.
“Com a formalização das novas tarifas, o grupo conta agora com um cenário mais concreto para analisar os impactos econômicos e identificar as medidas necessárias. O Governo do Estado está ouvindo as entidades setoriais e empresas para que contribuam com diagnósticos e propostas”, diz a nota.
A primeira reunião do Grupo de Trabalho ocorreu no dia 22 de julho e contou com a participação de entidades do setor produtivo, como a Firjan, a Fecomércio e a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), além das secretarias estaduais que compõem o colegiado.
De acordo com o Panorama do Comércio Exterior do Estado, somente em 2024 o Rio de Janeiro exportou US$ 7,4 bilhões em produtos para os Estados Unidos. Já no primeiro semestre de 2025, esse valor alcançou US$ 3,2 bilhões.
A reportagem solicitou ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços uma estimativa dos impactos do tarifaço sobre as exportações brasileiras por estado. Em resposta, a pasta afirma que não possui o levantamento regionalizado.
Por O Dia






